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mulher


Mulher perdigueira 

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Fabricio Carpinejar

 A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor. 
Como se fosse um crime desejar alguém com toda intensidade. 
Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance.
Tem que se controlar, fingir que não está incomodada, 
mentir que não ficou machucada por alguma grosseria, 
omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra.
Ela é vista como uma figura perigosa.
Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de
telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado.
Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca. 
Exige-se que seja educada. Ora, só o morto é educado. O
 homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol.
Para honrar a saída com os amigos. Para proteger suas manias. 
Diz que não quer uma mulher o perseguindo. Que procura uma figura submissa 
e controlada que não pegue no seu pé.
 Eu quero. Quero uma mulher segurando meus dois pés. 
Segurar os dois pés é carregar no colo. 
Porque amar não é um vexame
Escândalo mesmo é a indiferença. 

Fabricio Carpinejar: é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS. Nascido em Caixias do Sul (RS), é filho dos poetas Carlos Nejar e Maria Carpi, adotou a junção de seus sobrenomes em sua estréia poética, As solas do sol, de 1998. Em 2003 publicou, pela editora Companhia das Letras, a antologia Caixa de sapatos, que lhe conferiu notoriedade nacional.
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